sexta-feira, 3 de março de 2017

[Resenha] Crave a marca - Por Veronica Roth



Título: Crave a marca
[Crave a marca #1]
Autor (a): Veronica Roth
Páginas: 480
Editora: Rocco
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Sinopse: Num planeta em guerra, numa galáxia em que quase todos os seres estão conectados por uma energia misteriosa chamada “a corrente” e cada pessoa possui um dom que lhe confere poderes e limitações, Cyra Noavek e Akos Kereseth são dois jovens de origens distintas cujos destinos se cruzam de forma decisiva. Obrigados a lidar com o ódio entre suas nações, seus preconceitos e visões de mundo, eles podem ser a salvação ou a ruína não só um do outro, mas de toda uma galáxia. Primeiro de uma série de fantasia e ficção científica, Crave a marca é aguardado novo livro da autora da série Divergente, Veronica Roth, que terá lançamento simultâneo em mais de 30 países em 17 de janeiro, e surpreenderá não só os fãs da escritora, mas também de clássicos sci-fi como Star Wars.

Cyra e Akos não possuem nada em comum, a não ser que moram no mesmo planeta e mesmo isso não pode ser levado em consideração já que ela é uma shotet e ele um thuvhesitas, duas raças que se odeiam vivendo no mesmo planeta. Os thuvhesitas são o povo oficialmente reconhecido pela Assembléia, e, constantemente, os shotet tentam dominá-los de modo a mostrar sua soberania.

"Corações frágeis fazem valer a pena viver neste universo."

Akos vem de uma família afortunada o que gera grande preconceito em meio ao seu povo visto que as profecias são destinados a eles. Tudo estava indo bem até que os oráculos profetizaram as fortunas para as famílias. Seu irmão Eijeh seria o próximo oráculo e Akos possuí a infeliz fortuna de morrer servindo a família Noavek, família no qual faz parte da raça que odeia seu povo. Assim, Akos e Eijeh são capturados e levados para viver entre seus inimigos, e ele com apenas quatorze estações, foi obrigado a virar um guerreiro shotet.

"- A terceira criança da família Kereseth – leu Ryzek em othyriano, a língua mais comum da galáxia. De alguma forma, ouvir a fortuna no idioma em que foi anunciada soava mais real para mim. Imaginei se Akos, estremecendo a cada sílaba, sentia o mesmo. – Morrerá a serviço da família Noavek."

Cyra é filha do tirano e soberano shotet. Apôs a marte do seu pai, Ryzek Noavek, seu filho mais velho assumiu o posto. Ele fora treinado para ser igual ao pai, e não mede esforços para conseguir aquilo que deseja, nem que pra isso tenha que usar sua irmã como arma. Cyra teve seu dom da corrente desperto muito cedo, e ao contrário da maioria das pessoas, seu dom é mortal. Apenas um toque da jovem faz com que a mais forte das pessoas sucumba a uma dor insuportável, o dom não é nocivo apenas para aqueles lhe tocam, mas também para a própria Cyra que sofre diariamente.

"- Cyra, este é Akos Kereseth. A terceira criança da família Kereseth. Nosso… - Ryzek abriu um sorriso afetado. – Servo fiel.[...]
[...]- Eu interrompo a corrente. - Sua voz era surpreendentemente grave para alguém de sua idade, mas falhava, como era de se imaginar. - Não importa o que ela faça. - O dom da minha irmã é importantíssimo, Kereseth – disse Ryzek. - Mas, nos últimos tempos, perdeu a maior parte de sua utilidade pela forma que a incapacita. Para mim, parece que dessa forma você poderá cumprir melhor sua fortuna. – Ele se inclinou para falar ao ouvido de Akos. – Claro, você nunca deve esquecer quem realmente manda nesta casa."

Akos também teve seu dom da corrente manifesto apôs estar vivendo com os shotet. Ele possuí o dom de interromper o fluxo da corrente, e assim, Ryzek faz com que Akos fique perto de Cyra parando o fluxo da irmã e  evitar as dores que lhe impedem de fazer aquilo que ele deseja. Mas Akos tem outros planos, ele pretende salvar seu irmão das garras de Ryzek, e com a ajuda Cyra,talvez possa obter sucesso.




Veronica Roth se consagrou como escritora através da trilogia Divergente, também publicado aqui pela editora Rocco. Quando acabou a trilogia muitos se perguntavam quanto tempo demoraria para a autora voltar a escrever, mas logo tivemos a notícia que Crave a marca estava a caminho. Tornei-me fã de seu trabalho, mas confesso que tinha grandes reservas com o que ela poderia trazer nessa nova trilogia, mas é com alegria que falo que não poderia ter sido melhor surpresa.

"- Encontre outra razão para continuar - aconselhei. - Não precisa ser boa ou nobre. Precisa apenas ser uma razão."

Aqui acompanhamos primeiramente a trajetória de Akos e toda sua vontade inesgotável de salvar seu irmão que aos poucos tem perdido a própria essência em prol de um tirano. Quando digo vontade inesgotável é no mais fiel sentido da palavra, pois Akos é incansável, ele pensa a todo instante em formas e esquemas que façam com que Eijeh tenha a liberdade que tanto merece. Vemos um menino acanhado e cheio de inseguranças se tornar um homem forte, determinado e muito corajoso. A evolução que Akos tem ao decorrer da estória é tão nítida que chega á ser notado pela própria Cyra.


Ela por sua vez é uma jovem que é usada como arma por aqueles que deviam amá-la, isso gerou um endurecimento e amadurecimento prematura na personagem. Cyra foi por diversas vezes mal-humorada e um tanto quanto ácida, mas se coloquem em seu lugar, a todo instante ela recebe ondas fortíssimas em sua pele que geram muita dor no qual foi obrigada a conviver desde criança, vendo por esse lado até mesmo euzinha iria ficar amargurada. Vemos através de seu ponto vista as circunstâncias que fizeram com que ela despertasse o dom incomum, e também vemos seu endurecimento para sua proteção.


Algo que tem sido duramente criticado por grande parte dos leitores foi o fato do preconceito explicito que tem na obra, mas não vi nada de gritante e até mesmo acho que grande parte daqueles que reclamaram não entenderam o que a autora quis passar, foi totalmente proposital e até mesmo uma alfinetadinha para os leitores. Cyras e Akos tem um senhor preconceito um pelo outro simplesmente pela raça, mas o legal disso tudo foi a autora mostrar que ao se conhecerem eles se tornam amigos, e gostei muito dessa transição, e, deles mesmos caindo em si que já não pensavam mais da mesma forma e até mesmo poderia ali existir atração.

"- Honra - falei, bufando.– Não há lugar para honra na sobrevivência."

Outra coisa que achei fantástica foi a forma com que foi explorada as duas culturas. Tudo foi muito bem desenvolvido e a autora nos mostrou um mundo sensacional. Vemos primeiramente a forma como os thuvhesitas vivem e suas crenças, e após Akos ser capturado, vemos como os shotet vivem. Cyra mostra e explica como as coisas funcionam onde foi desde uma festa típica até a "peregrinação" que o povo faz através do universo seguindo a corrente. Também gostei da construção dos personagens secundários, todos tiveram seu espaço e importância na estória, ninguém ficou sem proposito ou utilidade. O destaque vai para o irmão tirano da Cyra, podemos ver toda sua crueldade e sede de poder. Confesso que demorei um pouco pra "engrenar" na leitura justamente por esses elementos, é tudo muito novo e com nomes difíceis de pronunciar, mas que com o pequeno dicionario que trás ao final do livro, tudo pode ser encaixado e entendido.

"- O dom de uma pessoa vem de quem ela é - disse Ryzek.- E ela  é o que o passado fez dela. Pegue às lembranças de uma pessoa e tomará o que a faz ser quem ela é. Você pega seu dom. E por fim..."

Como ponto negativo da estória destaco a narrativa. Veronica é fantástica em sua escrita, mas o livro possuí a narrativa de Cyra em primeira pessoa, e de Akos na terceira pessoa, isso quebrou totalmente o ritmo de leitura pois quando já estava acostumada lá entrava um capitulo em terceira pessoa e depois voltava em primeira. Não sei por que foi feito dessa forma, pois só mostra mesmo o ponto de vista do Akos quando está em terceira pessoa. Outra coisa foi a lentidão do começo da estória. Até a metade do livro as coisas são muito, mas muito calmas e monótonas, mas depois tudo começa a ficar frenético e somente nesse ponto pude perceber que estava mesmo lendo um livro da Veronica, pois ali estava tudo que sempre amei em seus livros.


A edição física do livro está apaixonante. No começo temos um mapa do "sistema solar" onde eles vivem, mostrando a nave da assembleia e seus planetas dentro do fluxo-da-corrente. A capa trás um azul forte e mais vivo ao olho nu. Internamente trás letras e espaçamentos formatados de maneira excepcionais. Geralmente quando se traduz um título do inglês para o português, acaba por trocar para que faça sentido com o livro, mas aqui foi adequado de forma certa e sonoramente mais agradável. Carve the mark literalmente seria "Esculpa a marca", mas vamos combinar que "Crave a marca" ficou bem melhor.


No geral adorei o livro e ao final fiquei bem ansiosa pela continuação que está prevista para sair lá fora em 2018. Aconselho a todos que desejam ler lembrar que essa é uma trilogia totalmente diferente  de Divergente, e como tal, deve ser apreciada por aquilo que ela é. Outro conselho que dou é para não desanimar, o começo da estória é sim bem arrastado e monótono, mas garanto que as coisas mudam completamente na segunda metade da estória e ai sim vemos um livro maravilho com cenas de ação sensacionais, frenéticas e  bem elaboradas. Recomendo o livro á todos!!




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